Bom, faz muito tempo que não posto nada, ando muito atarefado, mil coisas a fazer, mas enfim, a vida continua.
Hoje vou colocar aqui uma crônica natalina que eu fiz ok?
Espero que gostem.
Milagre de Natal
Agora por mais que eu tente não me lembro, e pra dizer a verdade nem quero lembrar o motivo. Só sei que estava lá, com todo aquele cheiro podre, e o sacolejar dos vagões nos trilhos. Completamente absorto em pensamentos, solitário, mas nem tanto.
Havia alguns seres incompreensíveis, como a maioria em tempos de dezembro.
Mesmo assim a viagem continuava com pequenos fachos de luz vindos de fora, arranhando-me a face.
Como uma tatuagem, ainda me recordo perfeitamente do pai com sua filha de colo.
O porquê de tal imagem me ficar gravada é um mistério.
Mas eles estavam lá, um aninhando o outro; esgueirando-se por entre as sombras, como que fugindo de algo, ou alguém.
O cheiro de álcool denunciava algum pobre infeliz, talvez cansado demais para retomar à dignidade.
Percebi o olhar cansado do pai, e o esforço que ele fazia para sustentar sua cria entre os braços, devia estar com fome também.
Não me lembro de ter visto alguém com aspecto tão miserável.
Os olhos pendiam fundos e derrotados, os lábios finos e rijos, o chapéu amarrotado indicava a “falta de sorte”.
Por vezes pensei em travar algum diálogo, mas o silêncio nos combinava tanto.
O que poderia ser melhor do que um vagão frio e triste em uma noite de natal?
Não caberia mesmo as palavras, apenas o que havia espaço era para o ficar parado, mudo, olhando o nada.
Estávamos ali, heróis de nós mesmos, lutando bravamente contra um inimigo invisível, ali, pessoas sem destino.
Acendi um cigarro, o pai olhou assustado com o barulho do fósforo acendendo, dei-lhe um aceno com a cabeça.
O pobre homem continuava a embalar sua cria, como se fosse a única coisa importante no mundo.
Com um comichão me corroendo por dentro, resolvi me entregar à solidariedade que só as noites de natal trazem.
Levantei-me devagar, aproximando-me cautelosamente para não acordar a menina.
- Está tão frio hoje – balbuciei para o homem que me olhava com estranheza.
- Típico dos natais nessa região – disse- me o pai, voltando a cabeça para sua filha.
Olhei para aquele homem, tentando entender que diabos fazia ele e sua filha, em uma noite de natal, indo para sabe lá Deus onde.
Como que adivinhando meus pensamentos, o homem abriu a boca, e deixou escorrer:
- Estou levando minha menina ao médico, há dias ela está com febre, e chorando.
Desviei o olhar para as árvores lá fora, pensando em algo não tão inútil para responder.
- Não há médicos em sua cidade?
- Não em noites de natal – me respondeu o homem com um sorriso amarelo, como somente as pessoas sem esperança têm.
- Não há de ser nada grave – insisti.
O pai não se deu o trabalho de retrucar, talvez por estar cansado demais, talvez por não conseguir esquecer a ronquidão do estômago.
Lancei o cigarro pela janela, dizendo algo mais para mim do que para o pobre pai, era preciso mudar a rota da conversa, tentar fazê-lo esquecer de sua filha doente, dar alguma esperança ao homem, afinal, dizem que é a última que morre, e ainda era natal.
- Sua mulher? Ficou em casa? – estava ficando desesperado com aquela situação.
- Moramos só eu e minha pequena – respondeu-me o homem com um olhar doce e lacrimejante.
Definitivamente não estava conseguindo ajudá-lo em nada, resolvi que melhor seria voltar ao meu lugar.
Sentei-me e continuei a fitar as árvores lá fora, o céu tão negro, como que prestes a nos devorar.
A viagem deveria estar chegando ao fim, fazia horas que estávamos lá.
Olhei para trás, para o pai e sua filha, na mesma posição tristonha.
A filha já não gemia mais, seus olhos cerrados como os de uma estátua, não conseguia enxergar um sinal de vida ali.
Fui acometido de tamanho desespero que me levantei, fitando a menina nos braços de seu salvador.
Será que o pai não tinha percebido que sua filha estava morta?
Como dizer a um pai que sua filha, sua única glória, jazia dura, gelada em suas mãos, quando nem ele mesmo notara?
O pai continuava a balançar sua filha, mas ela estava morta.
Como poder tirar de um pai o direito de tentar salvar sua filha?
Sentei-me, assustado com tudo aquilo, engolindo em seco cada golfada.
- O trem logo, logo chegará – avisou um homem alto, de uniforme, que julguei ser algum funcionário azarado, trabalhando em uma noite modorrenta de natal.
Apressei-me em levantar, tentando alcançar a porta do vagão, não queria, definitivamente não queria presenciar aquela cena, o pai percebendo a vitória da morte sobre seu anjo.
Comecei a ouvir o barulho dos trilhos freando, e meu coração saltitando, querendo fugir-me à boca.
Mas por um sentimento humano, pois humano é o que somos, com uma curiosidade vinda de algum lugar dentro de minha consciência, olhei para trás, a tempo de ver o pai levantar-se dizendo:
- Ei, acorde minha querida, já chegamos, ande acorde.
Amaldiçoava o maquinista por não parar logo o trem, a fim de que eu pudesse saltar e me livrar de tudo aquilo.
Mas, de repente, como um milagre, desses que só acontecem no natal, ouvi um choro.
- É, demorou mas chegamos – disse-me sorrindo o pai, com sua filha viva no colo, e passou por mim vagarosamente.
Deixei-me estar ali, imóvel, por alguns instantes.
Como era possível? A menina estava morta, eu tinha certeza.
- Já chegamos – gritou-me o infeliz funcionário, me trazendo de volta à realidade.
- Vai ficar aí parado, sozinho? – insistiu.
Sai do trem, lembrando cada pedaço da face da criança, tentado imaginar o que acontecera, algo para explicar.
Mas deixei-me vencer, afinal, milagres de natal não se explicam.
Acontecem.
Agora por mais que eu tente não me lembro, e pra dizer a verdade nem quero lembrar o motivo. Só sei que estava lá, com todo aquele cheiro podre, e o sacolejar dos vagões nos trilhos. Completamente absorto em pensamentos, solitário, mas nem tanto.
Havia alguns seres incompreensíveis, como a maioria em tempos de dezembro.
Mesmo assim a viagem continuava com pequenos fachos de luz vindos de fora, arranhando-me a face.
Como uma tatuagem, ainda me recordo perfeitamente do pai com sua filha de colo.
O porquê de tal imagem me ficar gravada é um mistério.
Mas eles estavam lá, um aninhando o outro; esgueirando-se por entre as sombras, como que fugindo de algo, ou alguém.
O cheiro de álcool denunciava algum pobre infeliz, talvez cansado demais para retomar à dignidade.
Percebi o olhar cansado do pai, e o esforço que ele fazia para sustentar sua cria entre os braços, devia estar com fome também.
Não me lembro de ter visto alguém com aspecto tão miserável.
Os olhos pendiam fundos e derrotados, os lábios finos e rijos, o chapéu amarrotado indicava a “falta de sorte”.
Por vezes pensei em travar algum diálogo, mas o silêncio nos combinava tanto.
O que poderia ser melhor do que um vagão frio e triste em uma noite de natal?
Não caberia mesmo as palavras, apenas o que havia espaço era para o ficar parado, mudo, olhando o nada.
Estávamos ali, heróis de nós mesmos, lutando bravamente contra um inimigo invisível, ali, pessoas sem destino.
Acendi um cigarro, o pai olhou assustado com o barulho do fósforo acendendo, dei-lhe um aceno com a cabeça.
O pobre homem continuava a embalar sua cria, como se fosse a única coisa importante no mundo.
Com um comichão me corroendo por dentro, resolvi me entregar à solidariedade que só as noites de natal trazem.
Levantei-me devagar, aproximando-me cautelosamente para não acordar a menina.
- Está tão frio hoje – balbuciei para o homem que me olhava com estranheza.
- Típico dos natais nessa região – disse- me o pai, voltando a cabeça para sua filha.
Olhei para aquele homem, tentando entender que diabos fazia ele e sua filha, em uma noite de natal, indo para sabe lá Deus onde.
Como que adivinhando meus pensamentos, o homem abriu a boca, e deixou escorrer:
- Estou levando minha menina ao médico, há dias ela está com febre, e chorando.
Desviei o olhar para as árvores lá fora, pensando em algo não tão inútil para responder.
- Não há médicos em sua cidade?
- Não em noites de natal – me respondeu o homem com um sorriso amarelo, como somente as pessoas sem esperança têm.
- Não há de ser nada grave – insisti.
O pai não se deu o trabalho de retrucar, talvez por estar cansado demais, talvez por não conseguir esquecer a ronquidão do estômago.
Lancei o cigarro pela janela, dizendo algo mais para mim do que para o pobre pai, era preciso mudar a rota da conversa, tentar fazê-lo esquecer de sua filha doente, dar alguma esperança ao homem, afinal, dizem que é a última que morre, e ainda era natal.
- Sua mulher? Ficou em casa? – estava ficando desesperado com aquela situação.
- Moramos só eu e minha pequena – respondeu-me o homem com um olhar doce e lacrimejante.
Definitivamente não estava conseguindo ajudá-lo em nada, resolvi que melhor seria voltar ao meu lugar.
Sentei-me e continuei a fitar as árvores lá fora, o céu tão negro, como que prestes a nos devorar.
A viagem deveria estar chegando ao fim, fazia horas que estávamos lá.
Olhei para trás, para o pai e sua filha, na mesma posição tristonha.
A filha já não gemia mais, seus olhos cerrados como os de uma estátua, não conseguia enxergar um sinal de vida ali.
Fui acometido de tamanho desespero que me levantei, fitando a menina nos braços de seu salvador.
Será que o pai não tinha percebido que sua filha estava morta?
Como dizer a um pai que sua filha, sua única glória, jazia dura, gelada em suas mãos, quando nem ele mesmo notara?
O pai continuava a balançar sua filha, mas ela estava morta.
Como poder tirar de um pai o direito de tentar salvar sua filha?
Sentei-me, assustado com tudo aquilo, engolindo em seco cada golfada.
- O trem logo, logo chegará – avisou um homem alto, de uniforme, que julguei ser algum funcionário azarado, trabalhando em uma noite modorrenta de natal.
Apressei-me em levantar, tentando alcançar a porta do vagão, não queria, definitivamente não queria presenciar aquela cena, o pai percebendo a vitória da morte sobre seu anjo.
Comecei a ouvir o barulho dos trilhos freando, e meu coração saltitando, querendo fugir-me à boca.
Mas por um sentimento humano, pois humano é o que somos, com uma curiosidade vinda de algum lugar dentro de minha consciência, olhei para trás, a tempo de ver o pai levantar-se dizendo:
- Ei, acorde minha querida, já chegamos, ande acorde.
Amaldiçoava o maquinista por não parar logo o trem, a fim de que eu pudesse saltar e me livrar de tudo aquilo.
Mas, de repente, como um milagre, desses que só acontecem no natal, ouvi um choro.
- É, demorou mas chegamos – disse-me sorrindo o pai, com sua filha viva no colo, e passou por mim vagarosamente.
Deixei-me estar ali, imóvel, por alguns instantes.
Como era possível? A menina estava morta, eu tinha certeza.
- Já chegamos – gritou-me o infeliz funcionário, me trazendo de volta à realidade.
- Vai ficar aí parado, sozinho? – insistiu.
Sai do trem, lembrando cada pedaço da face da criança, tentado imaginar o que acontecera, algo para explicar.
Mas deixei-me vencer, afinal, milagres de natal não se explicam.
Acontecem.
Um comentário:
Esse poema se define em uma palavra:FODA!!!!!!!!!!!!!Parabéns Arthuru.............de verdade,continue assim q com certeza vc vai prosperar.........e acredite mesmo em vc ,acima de tudo!!!!!!!!Bjaum da sua irmã Cassandra!!!
Postar um comentário